uma jornada de DESCOBERTAS

DESCUBRA a Travessia de Impacto Coletivo: Transformando Comunidades, Moldando Futuros!

A United Way Brasil tem a honra de apresentar a Travessia de Impacto Coletivo, um espaço virtual repleto de diálogo, reflexão e descobertas sobre a poderosa metodologia do Impacto Coletivo. A Travessia é o epicentro deste encontro, reunindo líderes dos três setores: organizações da sociedade civil, acadêmicos, formuladores de políticas públicas, empresários, ativistas e visionários.


Nossa missão é clara: impulsionar transformações profundas e promover o potencial dos territórios, com a equidade racial como valor central, focando nas novas gerações do Brasil. Acreditamos que a metodologia do Impacto Coletivo é a alavanca para transformações socioambientais sistêmicas e sustentáveis.

A #TIC é o hub de conteúdo proprietário da United Way Brasil, reunindo nosso vasto acervo sobre Impacto Coletivo. Aqui, você encontrará:

  • Artigos inspiradores que exploram a gênese do Impacto Coletivo e sua relevância no terceiro setor.
  • Entrevistas reveladoras com líderes que estão moldando o futuro das novas gerações.
  • Webinários enriquecedores que discutem processos colaborativos, tendências do investimento social privado e muito mais.

Neste NÚCLEO DE DESCOBERTAS  você comece sua jornada, com uma introdução à metodologia. Explore artigos que desvendam a gênese do Impacto Coletivo e seus impactos no terceiro setor. Participe de webinários que discutem  processos colaborativos em temas estratégicos e tendências do investimento social privado.

Participe da Travessia de Impacto Coletivo e faça parte da mudança! Este é o momento de agir e moldar um futuro brilhante para todos, a mudança começa aqui.  Descubra a TIC e fique por dentro sobre como você pode fazer a diferença!

SINOPSE: "Um convite à colaboração: criando soluções para problemas complexos"

Experiências que utilizam a colaboração ao enfrentamento de problemas complexos

Fernanda Schimidt, jornalista e editora do Ecoa (UOL), Adam Kahane, diretor da Reos e especialista em solução de conflitos, e Nina Silva, idealizadora do Movimento Black Money, trouxeram suas experiências que utilizam a colaboração ao enfrentamento de problemas complexos.

Na conversa, Adam defendeu que é possível trabalhar com pessoas diversas, inclusive aquelas com as quais não concordamos, nem confiamos. “Não é fácil, não há garantias, mas é possível”, reforçou. “O que eu aprendi nos mais de 30 anos de atuação é que, quando estamos diante de uma situação complexa, se tentarmos usar métodos que funcionam para situações não complexas, acabamos tendo uma fragmentação, obsolescência e polarização. Para obter sucesso nesse tipo de problema, precisamos de um processo que seja sistêmico, experimental e colaborativo”, ou seja, ele acredita que a metodologia do impacto coletivo é uma estratégia afinada à resolução de situações muito difíceis.

Sua percepção tem como base diversas experiências, como quando assumiu o papel de facilitador das reuniões realizadas entre diferentes atores, inclusive opositores entre si, na transição do regime de opressão racial, o apartheid, que predominou na África do Sul por muitos anos, para a democracia. A mesma vivência se deu mais recentemente, em 2014, no México, para intermediar o fim de conflitos que geraram o massacre de alunos e professores indígenas, num contexto de muita corrupção naquele país. O trabalho começou há seis anos e está em curso, criando uma aliança entre mais de 100 lideranças de diferentes áreas.

“Se você não consegue entender como é parte do problema, como você participa das questões que levam à situação atual, então você não pode ser parte da solução.” 

Para Adam, “normalmente, tendemos a impor o que queremos fazer, afetando ou não os outros. A colaboração, às vezes, é vista como primeira opção, mas, geralmente, é a última maneira adotada de se chegar ao que se quer. A experiência de colaboração pode ser muito diferente do que se espera. Ou seja, é importante que as pessoas abracem o conflito e a possibilidade de se conectarem umas com as outras, no lugar de buscar um consenso. É essencial que cada um reconheça o seu papel nesse processo e o que é preciso fazer diferente para que a situação mude, no lugar de impor mudanças para as pessoas. A essência do impacto coletivo, de uma colaboração extensiva ou ampliada, é não esperar que os outros façam alguma coisa, mas remover os obstáculos para que os envolvidos consigam expressar aquilo que os motiva mais profundamente, remover os obstáculos para a expressão do poder, do amor e da justiça. A forma de aprender colaboração é a mão na massa, é se engajar com os outros, de raças, níveis sociais e faixas etárias diferentes. A experiência de atuar com pessoas diversas é que nos dá o entendimento sobre potenciais e desafios de se criar essa capacidade colaborativa”, finalizou. 
 

Racismo estrutural: um problema complexo

Diferentemente de Adam, a experiência de Nina Silva com o impacto coletivo nasce de uma questão pessoal, que se amplia para um problema mais complexo no mundo e, especialmente, no Brasil. Cansada de não se reconhecer nos ambientes sociais e corporativos, ela foi vivenciar realidades em países onde as lutas contra o racismo estão vários passos à frente, para poder contribuir ao cenário brasileiro. Nina, que também integra o Conselho Deliberativo da United Way Brasil, fundou o movimento Black Money, que ela define como um processo em curso estruturado para conectar diferentes agentes que possam contribuir à causa.

Formada na área de TI e open finance, ela explica: “Fui apresentada a uma fresta dentro do sistema, sendo uma mulher preta. Olhei para essa fresta e vi uma chance não só de mobilização e possível carreira, mas, principalmente, como um espaço de mudança de acesso e de oportunidades para uma comunidade inteira. Somos 118,9 milhões de pessoas autodeclaradas negras e pardas, o segundo maior país em população negra no mundo, atrás apenas da Nigéria. Também somamos 53% dos micros e pequenos negócios que movimentam a economia brasileira, motivados pelos 70% de desempregados do país, que são negros e pardos e que acabam empreendendo por necessidade.”

Para Nina, ao falar de processos colaborativos é essencial que se fale em agenda comum, metas e objetivos. No caso do Black Money, essa agenda é o empoderamento, o reequilíbrio para dar poder às pessoas pretas e pardas no Brasil, que não contam com nenhuma ação mais estruturada. O racismo, sem dúvidas, é um problema complexo que arrastamos há anos. É um problema estendido e, portanto, a colaboração para enfrentá-lo também precisa ser estendida. “A pandemia e o homicídio de George Floyd, nos EUA, trouxeram à tona questões importantes sobre o genocídio dos jovens negros no Brasil. Um start colaborativo para que construamos uma agenda enegrecida, onde raça seja colocada como ponto de partida para outras agendas de desigualdades sociais, porque estamos falando de um país negro, em que a expectativa de vida de uma pessoa trans branca é de 35 anos e de uma trans negra é de 25, por exemplo. Ou seja, o fator raça puxa os índices para o agravamento das desigualdades.”
“Quem nunca ouviu falar que ‘se você quiser ir rápido, vá sozinho, mas se quiser ir longe, vá acompanhado’? Esse ditado é a base do trabalho colaborativo.” Segundo Nina, diferentemente de outras iniciativas brasileiras, o Black Money tem uma intencionalidade ao agir na questão racial. “A princípio, o movimento tinha como objetivo ser uma consultoria global de tecnologia para pessoas pretas, mas vi que o buraco era mais fundo. A gente precisava falar de educação, de letramento racial, para negros e não negros, e serviços financeiros. Temos, em quatro anos de atuação, 5 mil afro-empreendimentos sendo apoiados pelo Black Money, com o pilar único ‘compre intencionalmente de pessoas pretas, ative seu capital financeiro a serviço da comunidade negra’.” Para ela, a sociedade precisa ser colaborativa, a partir de dores reais. “A dor da comunidade negra precisa ser uma dor sentida por todos para que a gente possa resolver as demais questões de desigualdades”, ou seja, esta tem de ser a agenda comum para resolver a falta de equidade na sua raiz.

SINOPSE: "Impacto Coletivo"

Mudança social em grande escala exige ampla coordenação transetorial, mas o setor social permanece focado na intervenção isolada de organizações individuais

A maioria dos financiadores, que se depara com a tarefa de escolher alguns donatários entre muitos candidatos, tenta determinar quais organizações dão a maior contribuição para a solução de um problema social. Os beneficiados, por sua vez, competem para serem escolhidos enfatizando como suas atividades individuais produzem o maior efeito. Cada organização é avaliada por seu próprio potencial de impacto, independentemente das inúmeras outras organizações que também podem influenciar a questão. E quando um beneficiário é solicitado a avaliar o impacto de seu trabalho, todas as tentativas são feitas para isolar a influência individual desse beneficiário de todas as outras variáveis.
Em resumo, o setor sem fins lucrativos opera com mais frequência usando uma abordagem que chamamos de impacto isolado. É uma abordagem orientada para encontrar e financiar uma solução incorporada em uma única organização, combinada com a esperança de que as organizações mais eficazes cresçam ou se reproduzam para estender seu impacto mais amplamente. Os financiadores buscam intervenções mais eficazes como se houvesse uma cura para as escolas insolventes que só precisa ser descoberta, da mesma forma que curas médicas são descobertas em laboratórios. Como resultado desse processo, quase 1,4 milhão de organizações sem fins lucrativos tentam inventar soluções independentes para os principais problemas sociais, muitas vezes trabalhando em desacordo entre si e aumentando exponencialmente os recursos percebidos necessários para fazer um progresso significativo. As tendências recentes apenas reforçaram essa perspectiva. O crescente interesse em filantropia de risco e empreendedorismo social, por exemplo, beneficiou muito o setor social ao identificar e acelerar o crescimento de muitas organizações sem fins lucrativos de alto desempenho, mas também acentuou a ênfase na ampliação de algumas organizações selecionadas como a chave para progresso social.


Apesar do domínio dessa abordagem, há poucas evidências de que iniciativas isoladas são a melhor maneira de resolver muitos problemas sociais no mundo complexo e interdependente de hoje. Nenhuma organização é responsável por qualquer problema social importante, nem pode resolvê-lo. No campo da educação, mesmo as organizações sem fins lucrativos mais respeitadas — como Harlem Children's Zone, Teach for America e Knowledge Is Power Program (KIPP) — levaram décadas para alcançar dezenas de milhares de crianças, um feito notável que merece louvor, mas que está três ordens de magnitude aquém das dezenas de milhões de crianças americanas que precisam de ajuda. O problema de depender do impacto isolado de organizações individuais é ainda agravado pelo isolamento do setor sem fins lucrativos. Os problemas sociais surgem da interação das atividades governamentais e comerciais, não apenas do comportamento das organizações do setor social. Como resultado, problemas complexos só podem ser resolvidos por coalizões intersetoriais que envolvam pessoas fora do setor sem fins lucrativos.

Tipos de colaborações: As organizações vêm tentando resolver os problemas sociais por meio da colaboração há décadas, sem produzir muitos resultados. A grande maioria desses esforços carece dos elementos de sucesso que permitem que iniciativas de impacto coletivo alcancem um alinhamento sustentado de esforços.

  • Colaboradores do financiador são grupos de financiadores interessados em apoiar a mesma questão que reúnem seus recursos. Geralmente, os participantes não adotam um plano de ação abrangente baseado em evidências ou um sistema de medição compartilhado, nem se envolvem em atividades diferenciadas além da redação de cheques ou envolvem partes interessadas de outros setores
  • Parcerias público-privadas são parcerias formadas entre o governo e organizações do setor privado para fornecer serviços ou benefícios específicos. Muitas vezes, elas são direcionadas de forma restrita, como o desenvolvimento de um determinado medicamento para combater uma única doença, e geralmente não envolvem todo o conjunto de partes interessadas que afetam a questão, como o sistema de distribuição do medicamento potencial.
  • As iniciativas de múltiplas partes interessadas são atividades voluntárias das partes interessadas de diferentes setores em torno de um tema comum. Normalmente, essas iniciativas carecem de qualquer medição compartilhada de impacto e da infraestrutura de apoio para forjar qualquer alinhamento verdadeiro de esforços ou responsabilidade pelos resultados.
  • Redes do setor social são grupos de indivíduos ou organizações fluidamente conectados por meio de relacionamentos intencionais, sejam formais ou informais. A colaboração é geralmente ad hoc e, na maioria das vezes, a ênfase é colocada no compartilhamento de informações e ações de curto prazo direcionadas, ao invés de uma iniciativa sustentada e estruturada.
  • As Iniciativas de impacto coletivo são compromissos de longo prazo de um grupo de atores importantes de diferentes setores com uma agenda comum para a solução de um problema social específico. Suas ações são apoiadas por um sistema de medição compartilhado, atividades que se reforçam mutuamente e comunicação contínua, e são administradas por uma organização de espinha dorsal independente.

As cinco condições do sucesso coletivo

Mudanças complexas nos sistemas exigem liderança de vários parceiros: líderes do governo estadual, agências de financiamento, escolas, hospitais, setor privado, organizador comunitário e muito mais. É aqui que o impacto coletivo entra em jogo – como um método para envolver parceiros de diferentes setores para resolver os complexos problemas sociais do dia. O impacto coletivo – uma abordagem que reúne diferentes setores para uma agenda comum a fim de resolver grandes problemas complexos em escala – pode ser lançado como uma nova abordagem colaborativa ou aplicada ao trabalho colaborativo existente para ajudar a facilitar o envolvimento intersetorial para implementar efetivamente suas estratégias para alcançar seus resultados desejados. O impacto coletivo é baseado em cinco componentes interconectados que podem produzir um forte alinhamento e levar a resultados em grande escala. Os cinco componentes são:
  1.  Agenda comum | Todos os participantes compartilham uma visão de mudança que inclui um entendimento comum do problema e uma abordagem conjunta para resolver o problema por meio de ações acordadas;
  2.  Medição compartilhada | Todas as organizações participantes concordam sobre as maneiras como o sucesso será medido e relatado, com uma pequena lista de indicadores comuns identificados e usados para aprendizagem e melhoria;
  3. Atividades que se reforçam mutuamente | Um conjunto diversificado de partes interessadas, normalmente entre setores, coordena um conjunto de atividades diferenciadas por meio de um plano de ação que se reforça mutuamente;
  4. Comunicação contínua | Todos os participantes se envolvem em comunicação aberta frequente e estruturada para construir confiança, assegurar objetivos mútuos e criar motivação comum; e
  5. Apoio de base | Uma equipe independente e financiada dedicada à iniciativa oferece suporte contínuo, orientando a visão e a estratégia da iniciativa, apoiando atividades alinhadas, estabelecendo práticas de medição compartilhadas, construindo a vontade pública, promovendo políticas e mobilizando recursos

SINOPSE: "Metodologia de Impacto Coletivo - uma estratégia para a colaboração que gera resultados"

Impacto coletivo é para problemas complexos e exige mudança de cultura

O jornalista Fernando Rossetti entrevistou John Kania, fundador e diretor-executivo do Collective Change Lab. John é pesquisador, escritor e palestrante sobre temas que discutem como as organizações e as pessoas têm empreendido mudanças nas diferentes realidades, nos últimos 30 anos, sendo considerado um dos criadores do conceito de impacto coletivo.

Tudo começou em 2011, quando ele atuava na FSG e estava trabalhando com diferentes organizações, individualmente. “Todas tinham missões incríveis e queriam mudar o mundo, o que é ótimo, mas ficava claro que nenhuma delas conseguiria atingir suas metas isoladamente. Então, demos alguns passos para trás e começamos uma pesquisa para obter insights e pensar em como reunir instituições de setores diferentes para obter avanços positivos em maior escala”, explicou John, em resposta à pergunta de Fernando, sobre como a metodologia foi desenvolvida.

O resultado dessa pesquisa trouxe a confirmação de que a colaboração entre as organizações era mínima. Com base no pouco que existia, fizeram uma análise mais aprofundada e chegaram a cinco condições básicas para que a atuação coletiva aconteça e gere impacto: ter uma agenda comum (definição do problema e o que se quer fazer para enfrentá-lo); indicadores compartilhados (organizações que atuam com a mesma causa deveriam usar o mesmo escopo de indicadores para entender avanços e desafios comuns); ações que se reforçam (integrar as atividades que as instituições realizam); comunicação contínua (um diálogo permanente entre as organizações que estão atuando juntas); ter uma organização de base (responsável em coordenar todo o processo e os envolvidos nessa operação coletiva).
Para John, existem três tipos de desafios: simples, complicados e complexos. O impacto coletivo se aplica aos complexos que, na nossa realidade, estão relacionados a questões sobre as quais não sabemos tudo, que envolvem muitas pessoas, situações e instituições, como é o caso de vacinar toda a população contra a Covid-19, por exemplo.

“Para mudar um sistema e torná-lo eficiente, é preciso trazê-lo para a sala”, explicou John. “É necessário envolver todos os players que fazem esse sistema acontecer, porque essas pessoas e instituições precisam trabalhar juntas e eu acredito que a essência do impacto coletivo está nos relacionamentos. Acredito que se quisermos mudar sistemas, precisamos mudar as pessoas, ou seja, os esforços de impacto coletivo estão relacionados à mudança de cultura, que é feita por pessoas. Estas vêm e vão, mas a cultura fica. E se ela for frágil, as transformações não se sustentam”, reforçou. Ou seja, mudar o sistema pressupõe mudar as condições que o criaram e que o mantêm dessa forma, ineficiente.

John acredita que as responsabilidades devem ser distribuídas quando se trata de atuar em colaboração para gerar impacto coletivo. Nunca se deve depender de um líder, mas a cooperação como base, porque não é um modo hierarquizado de se fazer as coisas. “Tem um papel, na metodologia, que é o líder do sistema, que coletiva a liderança sistêmica, cujo papel é nutrir e apoiar a mudança, ao invés de ‘puxá-la’”, definiu o especialista. “Diferentes especialistas se juntam para pensar em soluções para um problema específico”, reforçou.

Soluções de e para longo prazo

Dentre as perguntas trazidas pelo público do evento, uma mereceu destaque nessa conversa: “Qual o tempo necessário para uma ação de impacto coletivo acabar e se cumprir?”. John foi cirúrgico na sua resposta: “Problemas complexos são questões de gerações inteiras. A pobreza, por exemplo, é geracional e, provavelmente, vai existir por muito tempo, mas que, se percebida como essencial, tende a se enfraquecer com o tempo, diante das ações coletivas e coordenadas”. Mas ele também aconselha: “Se não se obtém progressos com determinada questão, em dois ou três anos, provavelmente é algo que não vale a pena continuar. Para se obter sucesso, é preciso que sejam percebidas mudanças sistêmicas.”

Com relação aos investimentos necessários para sustentar iniciativas de impacto coletivo, John acredita que organizações e empresas com fins filantrópicos podem manter a espinha dorsal da ação (uma organização que protagonize a articulação da colaboração, por exemplo), mas também podem ter um papel importante no corpo da liderança, “normalmente um comitê consultivo que seja multissetorial”, recomendou.

SINOPSE: "Cartilha do Impacto Coletivo"

Princípios básicos de prática para orientar os profissionais sobre como colocar o impacto coletivo em ação

Os profissionais de impacto coletivo bem-sucedidos também observam que, embora as cinco condições acima sejam necessárias, elas não são suficientes para atingir o impacto no nível da população. Além disso, existem princípios básicos de prática que acreditamos que podem orientar os profissionais sobre como colocar o impacto coletivo em ação com sucesso. Observe que, embora muitos desses princípios não sejam exclusivos do impacto coletivo, vimos que a combinação das cinco condições e essas práticas contribui para uma mudança significativa no nível da população.

  • Elaborar e implementar a iniciativa com prioridade na equidade. Para que as iniciativas de impacto coletivo alcancem melhorias sustentáveis nas comunidades, é fundamental que essas iniciativas abordem as estruturas e práticas sistêmicas que criam barreiras para resultados equitativos para todas as populações, particularmente nas linhas de raça e classe. Para esse fim, as iniciativas de impacto coletivo devem ser intencionais em seu desenho desde o início para garantir que uma lente de equidade seja proeminente em toda a sua governança, planejamento, implementação e avaliação. Ao projetar e implementar o impacto coletivo com foco na equidade, os profissionais devem desagregar os dados e desenvolver estratégias que enfoquem a melhoria dos resultados para as populações afetadas.
  • Incluir membros da comunidade no colaborativo. Os membros da comunidade — aqueles cujas vidas são mais direta e profundamente afetadas pelo problema abordado pela iniciativa — devem estar significativamente envolvidos na governança, planejamento, implementação e avaliação da iniciativa. Os membros da comunidade podem trazer perspectivas cruciais (e às vezes esquecidas) para órgãos de governança e mesas de tomada de decisão, podem contribuir para refinar as metas, estratégias e indicadores em evolução da iniciativa de impacto coletivo, podem ajudar a cocriar e implementar soluções que estão enraizadas na experiência vivida e têm potencial para uma absorção significativa, podem participar na construção da capacidade das comunidades para liderar e sustentar mudanças e podem participar na interpretação de dados e processos de aprendizagem contínua. Às vezes, os tomadores de decisão ou outras partes interessadas podem inadvertidamente enfrentar dinâmicas de poder ou outras barreiras estruturais que podem impedir determinados parceiros de participar franca e totalmente; a verdadeira inclusão requer o exame intencional das necessidades e processos do grupo para garantir que todas as partes interessadas tenham plena oportunidade de contribuir com o processo. Engajar a comunidade dessas maneiras ajuda os esforços coletivos de impacto a abordar as questões mais importantes para aqueles mais diretamente afetados, aumenta a capacidade e permite a participação da comunidade e a propriedade de soluções, e ajuda a incorporar o trabalho na comunidade para que seja mais eficaz e sustentável.
  • Recrutar e cocriar com parceiros intersetoriais. Colaborativas de impacto coletivo são criadas e compostas por atores de vários setores e partes da comunidade, incluindo organizaçõessem fins lucrativos, governo, setor privado, filantropia e residentes. Embora nem todas as iniciativas envolvam todos os setores ativamente ao mesmo tempo, as colaborações compostas por apenas um ou dois tipos de atores (por exemplo, todas as organizações sem fins lucrativos, todos os financiadores) não têm a diversidade de atores necessária para criar a visão em nível de sistema que contribui para uma iniciativa de impacto coletivo robusto. Esses parceiros intersetoriais, que têm um papel a desempenhar na solução, compartilham a cocriação da agenda comum, identificando medidas compartilhadas e implementando o trabalho necessário para atingir os objetivos do esforço
  • Usar dados para aprender, adaptar e melhorar continuamente. O impacto coletivo não é uma solução, mas sim um processo colaborativo de resolução de problemas. Este processo requer que os parceiros permaneçam cientes das mudanças no contexto, coletem e aprendam com os dados, compartilhem abertamente informações e observações com outras pessoas e adaptem suas estratégias rapidamente em resposta a um ambiente em evolução. Para conseguir isso, as iniciativas devem ter prioridades de aprendizagem claras, construir estruturas e processos fortes de aprendizagem e criar uma cultura de aprendizagem que permita ao grupo usar dados qualitativos e quantitativos significativos, confiáveis e úteis para aprendizagem contínua e refinamento estratégico. Muitas iniciativas consideram valioso usar um processo disciplinado e formalizado para orientar o uso de dados.
  • Cultivar líderes com habilidades únicas de liderança de sistema. Para que as iniciativas de impacto coletivo alcancem mudanças transformacionais, os líderes devem possuir fortes habilidades de facilitação, gerenciamento e convocação. Eles devem ser capazes de criar um espaço de retenção para as pessoas se reunirem e trabalharem seus pontos de vista díspares, eles devem possuir a capacidade de promover significados e aspirações compartilhados entre os participantes, eles devem ser capazes de ajudar os participantes a compreender a complexidade e não linearidade de mudança em nível de sistema, eles devem estar dedicados à saúde do todo e dispostos a mudar suas próprias organizações a serviço da agenda do grupo, e devem ser adeptos da construção de relacionamentos e confiança entre os colaboradores. Essas habilidades de liderança de sistema são essenciais para a espinha dorsal e também para outros líderes na colaboração, como membros do comitê gestor, líderes comunitários e líderes de equipes de ação.
  • Concentrar-se nas estratégias do programa e do sistema. As atividades que se reforçam mutuamente e que a iniciativa assume para atingir seus objetivos devem se concentrar no programa coletivo e nas estratégias de mudança do sistema, em vez de programas ou organizações individuais. As estratégias do sistema incluem estratégias que aumentam a comunicação e coordenação entre as organizações, mudam as práticas e o comportamento dos profissionais e beneficiários, mudam as normas sociais e culturais, melhoram amplamente o sistema de serviços (espalhando técnicas que já funcionam dentro da comunidade através das organizações, ou trazendo uma nova prática baseada em evidências na comunidade) e políticas de mudança.
  • Construir uma cultura que promova relacionamentos, confiança e respeito entre os participantes. As parcerias de impacto coletivo requerem que os participantes cheguem a um entendimento comum do problema e objetivos comuns, trabalhem juntos e alinhem o trabalho de novas maneiras e aprendam uns com os outros. Relações interpessoais autênticas, confiança, respeito e inclusão são elementos-chave da cultura necessária para que esse trabalho difícil ocorra. A espinha dorsal e outros líderes de iniciativa devem ser proativos em seus esforços para criar essa cultura.
  • Personalizar para o contexto local. Embora as cinco condições sejam consistentes em todas as iniciativas de impacto coletivo, e as iniciativas beneficiem muito ao aprender umas com as outras, personalizar a iniciativa para o contexto local é essencial. As iniciativas podem fazer seu melhor trabalho quando entendem profundamente o problema que estão tentando resolver localmente — tanto a partir dos dados e contribuições da comunidade quanto da compreensão do trabalho existente e das coalizões que podem estar trabalhando em questões semelhantes. Personalizar o trabalho para se ajustar ao contexto da comunidade local permite à coalizão honrar, desenvolver e/ou alinhar-se com o trabalho existente e buscar estratégias de sistema e programa que sejam mais relevantes para as necessidades locais.

SINOPSE: "Princípios de Prática de Impacto Coletivo"

Para que as iniciativas de impacto coletivo alcancem melhorias sustentáveis nas comunidades, é fundamental que essas iniciativas priorizem a e equidade

Ficamos inspirados observando o progresso no campo de impacto coletivo nos últimos cinco anos, à medida que milhares de profissionais, financiadores e legisladores por todo o mundo aplicam essa abordagem buscando ajudar a resolver problemas sociais complexos em larga escala. A compreensão do campo sobre o que é necessário para colocar a abordagem do impacto coletivo em prática continua evoluindo por meio das contribuições de muitos que estão empreendendo o trabalho profundo de mudança social colaborativa, baseando os seus sucessos em décadas de trabalho em torno da colaboração intersetorial eficaz. Praticantes bem-sucedidos do impacto coletivo continuam afirmando a importância fundamental de obter mudanças no nível da população nas cinco condições de impacto coletivo que John Kania e Mark Kramer identificaram originalmente na Stanford Social Innovation Review, no inverno de 2011. (Para uma explicação das condições, veja o final deste documento). Muitos profissionais nos dizem que a estrutura desenvolvida no artigo original ajudou a apresentar ao campo uma definição compartilhada e uma linguagem útil para descrever os elementos centrais de uma abordagem rigorosa e disciplinada, embora flexível e orgânica, para abordar problemas complexos em escala.
No entanto, os praticantes do impacto coletivo bem-sucedido também observam que, embora as cinco condições que Kania e Kramer inicialmente identificaram como necessárias, elas não são suficientes para atingir o impacto no nível da população. Informado por lições compartilhadas entre aqueles que estão implementando a abordagem no campo, este documento descreve princípios adicionais da prática que acreditamos poder orientar os profissionais sobre como colocar o impacto coletivo em ação com sucesso. Embora muitos desses princípios não sejam exclusivos do impacto coletivo, vimos que a combinação das cinco condições e dessas práticas contribui para uma mudança significativa no nível da população. Esperamos que esses princípios ajudem os financiadores, profissionais e legisladores a considerar o que é necessário para aplicar a abordagem de impacto coletivo e que eles fortaleçam os esforços existentes para superar os desafios e os obstáculos em seu trabalho. Também esperamos que esses princípios possam ajudar a orientar aqueles que aspiram a um impacto coletivo, mas que podem ainda não estar implementando a abordagem integralmente, com o intuito de identificar eventuais mudanças que podem aumentar as suas chances de sucesso. À medida que continuamos aplicando as condições e os princípios do impacto coletivo, esperamos plenamente que, com o tempo, a nossa compreensão compartilhada do que constitui uma boa prática evolua ainda mais.
  1. Projeto e implementação da iniciativa com prioridade na equidade. 
  2. Inclusão de membros da comunidade no colaborativo.
  3. Seleção e cocriação com parceiros intersetoriais.
  4. Uso dos dados para aprender, adaptar e melhorar continuamente.
  5. Cultivo de líderes com habilidades únicas de liderança de sistema.
  6. Foco nas estratégias do programa e nas do sistema.
  7. Construir uma cultura que promova relacionamentos, confiança e respeito entre os participantes.
  8. Personalizar para o contexto local.
Esses princípios de prática foram identificados com base no trabalho da área de profissionais do Collective Impact Forum em parceria com o Aspen Institute Forum for Community Solutions, FSG, o Forum for Youth Investment, Grantmakers for Effective Organizations, Living Cities, PolicyLink, o Tamarack Institute e a United Way Worldwide

SINOPSE: "Lançamento de publicações sobre Impacto Coletivo em português"

Publicações inéditas traduzidas para o português

Gabriel Cardoso, gerente executivo do Instituto Sabin, lançou no Fórum estudos e pesquisas traduzidos pelo Instituto para a Língua Portuguesa sobre a metodologia de Impacto Coletivo. O objetivo é munir pessoas e instituições com conteúdo de qualidade para embasar discussões e ações ancoradas na metodologia, colocando o Brasil no caminho de grandes mudanças, a partir de um trabalho coletivo e colaborativo.

SINOPSE: "Processos colaborativos em temas estratégicos: um caso de inclusão produtiva de jovens"

Impacto coletivo pela inclusão produtiva das juventudes em territórios vulnerabilizados

O painel, mediado por Jamie McAuliffe, diretor do Aspen Institute, reuniu Daniela Saraiva, líder do GOYN SP (Brasil), ao lado da jovem-potência Ana Inêz; Camilo Carreño, diretor do GOYN Bogotá (Colômbia), que estava com o jovem-potência Jorge; e Mahmoud Noor, liderança do GOYN Mombasa (Quênia), com a jovem-potência Amina.

Jamie iniciou o diálogo, apresentando o GOYN, uma iniciativa global do Aspen Institute, criado, inicialmente, para atender as necessidades de empregabilidade de jovens dos Estados Unidos. As experiências bem-sucedidas estão sendo compartilhadas com outras cidades de países diversos, com o propósito de apoiar, globalmente, as diferentes juventudes para que possam construir uma carreira profissional bem-sucedida, quebrando ciclos de pobreza.

O GOYN não inventou a roda, como bem lembrou Jamie: “Já existem grupos e instituições, promovendo apoio aos jovens. O que pretendemos é criar um ecossistema mais coeso, reunindo todos os atores em uma rede de colaboração: governo, empresas, organizações sociais, jovens… Assim, ampliamos as chances de sucesso e de avançar mais rapidamente nessa agenda, de uma forma coordenada.” Outra característica do movimento internacional, que utiliza a metodologia do impacto coletivo, é a atuação local. “Acreditamos, por exemplo, que as empresas dos territórios podem gerar empregos para os jovens das comunidades onde estão inseridas, respeitando maneiras de ser e necessidades de cada região”, reforçou Jamie.

GOYN São Paulo: jovens no centro das decisões

Daniela Saraiva, liderança do GOYN SP em 2021, conta que a iniciativa deu seus primeiros passos no Brasil seguindo as premissas do movimento global. “Construímos uma coalizão de vontades e de pessoas próximas que têm interesse pela causa e pela estrutura do trabalho colaborativo”. Hoje, o GOYN SP reúne mais de 80 instituições que atuam, coletivamente, para gerar oportunidades que, até 2030, promovam a inclusão no mercado de trabalho de 100 mil jovens das periferias da maior cidade do País.

A implementação em São Paulo, articulada pela United Way Brasil, demandou algumas ações prioritárias, como a mobilização e o fortalecimento das relações de confiança entre empresas e instituições de diferentes áreas e a realização de pesquisas e estudos sobre o cenário das juventudes, mapeando oportunidades e desafios, para se pensar em soluções baseadas em evidências. Outra questão essencial foi garantir que o jovem esteja, de fato, no centro das iniciativas, não só como sujeito delas, mas como coparticipante na tomada de decisões, exercendo a liderança ativa.

“A gente chegou nas reuniões on-line e ficou lado a lado com representantes do governo, das empresas, com pessoas com as quais a gente nunca teve contato. Nos debates e nas conversas, a gente colocava nossas dores. As empresas e instituições compartilhavam as delas. Essa troca teve um grande valor, porque tínhamos uma visão estratégica mais ampla, olhando para as diferentes pontas desse ecossistema. Existem muitas ações que atuam pela empregabilidade, empreendedorismo e renda dos jovens, mas a maioria não parte dessa escuta. Não ouve o que o jovem pensa sobre elas”, revelou Ana Inês, jovem-potência.

GOYN Bogotá: a importância dos dados para traçar cenários e soluções

Camilo Carreño, diretor do GOYN Bogotá (Colômbia), contou que, a princípio, o estudo para mapear os territórios demonstrou, em uma mesma região, que os problemas eram heterogêneos, inspirando a estruturação de uma agenda e, mais tarde, a implementação de iniciativas setoriais para realizá-la. “Assim, conseguimos integrar diferentes leituras sobre o mercado de trabalho e compreender quais eram os setores que precisavam ser trabalhados para garantir a empregabilidade das juventudes.”, explicou.

Em Bogotá, os jovens foram ouvidos e, a partir dessa escuta, as ações foram desenhadas coletivamente. Com o advento da pandemia e suas consequências, com base em pesquisas, percebeu-se que era importante incentivar os jovens, especialmente as mulheres, a terem uma presença mais ativa na área da construção, pensando na retomada econômica pós crise sanitária. O próximo passo foi vencer estereótipos e preconceitos sobre mulheres nesse ramo de trabalho – tanto junto ao mercado como entre as próprias juventudes.

Os dados têm servido, para o GOYN Bogotá, não só com o objetivo de traçar cenários, mas, sobretudo, para monitorar indicadores e avaliar resultados, de forma sistêmica.

Para Jorge, jovem-potência que vive na capital do País, “o GOYN Bogotá levou para a agenda pública a discussão sobre preconceito e machismo que impedem as mulheres de exercerem profissões em espaço comumente ocupados pelos homens. O Projeto Mulheres na Construção é muito forte e inovador, porque tem trabalhado a inclusão das jovens nesse nicho da produtividade, envolvendo diferentes áreas.”

GOYN Mombasa: políticas para jovens e jovens na política

A realidade da violência armada e de crimes, que atinge a cidade, acaba sendo um limitador para que as juventudes se sintam aceitas no ecossistema produtivo, já que o preconceito sobre sua origem acaba por afastá-los das oportunidades de trabalho e estudo, nos territórios adjacentes. As políticas públicas, até então, pouco tratavam das necessidades dos jovens, no entanto, como contou Mahmoud, liderança do GOYN Mombasa, por influência do movimento e dos diálogos com o governo, a Constituição passou a garantir uma porcentagem do PIB para ações voltadas à formação e empregabilidade dos jovens.

“Para fortalecer a rede de organizações e empresas que atuam pela inclusão produtiva das juventudes, nós criamos o Conselho de Jovens, com cerca de 50 representantes dos condados de Mombasa. Trazemos pessoas do governo e das empresas para estar nesse conselho multissetorial e discutir com os jovens as ações necessárias”, contou Mohamoud.

A ideia é empoderar as juventudes para que se posicionem diante das questões que as afetam, apoiando-as com mentorias e diálogos para que se apropriem dos recursos que têm para avançar nos seus propósitos coletivos de inclusão.

Amina, jovem-potência de Mombasa, contou que o Conselho busca influenciar políticas públicas e garantir direitos dos jovens. “Nós chamamos os jovens para que façam parte a fim de que, juntos, a gente mude o sistema. Uma de nossas conquistas foi ajudar a definir a distribuição do orçamento público nos condados. A gente se senta com adultos e idosos e discute, juntos, o que fazer pelo território”.

SINOPSE: "Financiamento de iniciativas colaborativas no Brasil"

Desafios e oportunidades para potencializar iniciativas sociais colaborativas

Natália Leme, responsável por parcerias e programas da Fundação Arymax, mediou o painel sobre financiamento de iniciativas colaborativas, que contou com a participação de Greta Salvi (diretora Brasil da Latimpacto), Marco Gorini (cofundador do Grupo Din4mo) e Leonardo Letelier (fundador e CEO da Sitawi Finanças do Bem).

Durante o diálogo, a mesa explicou as diferentes formas de financiamento e a relação com o conceito de um novo capitalismo que adota o posicionamento empresarial com foca na geração de valor para todas as partes envolvidas (colaboradores, clientes, fornecedores, acionistas, comunidades e meio ambiente). “O setor filantrópico também tem discutido outros modelos de atuação, horizontais e participativos, envolvendo todos os interessados”, explicou a mediadora.
Com o surgimento da Covid-19 e seus reflexos negativos nas áreas econômica e social, o terceiro setor se viu diante de um desafio que exigiu rapidez e magnitude das ações, potencializando a criação de redes de colaboração entre diferentes atores, construindo relações de confiança entre executores e investidores.

Impacto socioambiental para toda América Latina

Com relação à causa do meio ambiente, por exemplo, a Latimpacto se estruturou há um ano e meio, unindo organizações de setores e países diferentes para gerar impacto socioambiental com o objetivo de romper fronteiras setoriais e regionais. Fazem parte da rede os provedores de capital (fundações, institutos, consultorias, universidades, poder público e mercado financeiro), contando, atualmente, com cerca de 100 membros. O trabalho dessa rede tem como base o conceito de venture philantropy, recentemente implementado na América Latina, que une o olhar mais profundo (da filantropia) com a visão estratégica (do mercado financeiro) sobre os desafios socioambientais.
“A venture philantropy se ancora em três pilares: o financiamento personalizado, que é o entendimento sobre a organização a ser apoiada (em que estágio está, de que precisa, se é uma doação ou um empréstimo, que impacto ela gera) e o investidor que a apoia, para equalizar recursos e ações. O segundo pilar é o apoio não financeiro, complementar ao primeiro, para organizações em estágio inicial. Por fim, a gestão e medição, para apoios de longo prazo, para identificar o nível de impacto causado pela ação da organização”, explicou Greta.

Foco na Agenda 2023

Para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), a Dyn4mo tem trabalhado para mobilizar capital que acelere o financiamento e cubra o gap de 3,5 trilhões de dólares anuais necessários para financiar a agenda de 2030. “É o desafio da alocação de recursos. Temos de discutir a cultura das priorizações e colocar o impacto como valor. O blended (a combinação de diferentes atores) é uma das ferramentas para avançarmos nessa discussão. Não sairemos do lugar usando as mesmas práticas, por isso, além da inovação, precisamos de seis posturas que podem mudar o jogo: persistência, paciência, convergência, resiliência, coerência e consistência”, definiu Marco, da Dyn4mo, que complementou: “Ou a gente senta, como sociedade, para compor com todos os atores a fim de que priorizem a agenda 2030 – e o blended entra aí como uma possibilidade dentre tantas – ou não vamos conseguir atingir os ODS.” Para ele, um ator é essencial nessa mobilização: as plataformas de investimento coletivo, que podem mexer o ponteiro no ponto de vista da cultura e da colaboração para repensar as prioridades na hora de definir onde distribuir os recursos.
“Ou a gente senta, como sociedade, para compor com todos os atores a fim de que priorizem a agenda 2030 – e o blended entra aí como uma possibilidade dentre tantas – ou não vamos conseguir atingir os ODS," disse Marco Gorini, do Grupo DIN4MO.

Investimentos com retorno

As organizações que promovem impacto coletivo, sejam elas com objetivo ou não de lucro, podem tomar e devolver capital se ele for ofertado de uma maneira articulada, pensando em prazo, taxas de juros, garantia e flexibilidades. Foi essa linha de pensamento que deu origem a Sitawi Finanças do Bem, que hoje faz o papel de mediador para organizar, estruturar e dar uma voz mais consolidada aos grupos que querem apresentar seus projetos para financiadores, por exemplo.

A Sitawi tem três áreas de atuação:

  • A primeira se chama área de desenvolvimento de impacto, que começou com empréstimos para as organizações sociais focadas em gerar impacto socioambiental, e depois migrou para uma plataforma de empréstimo coletivo, retornando aos investidores seu capital, com juros.
  • A segunda é uma área de gestão de fundos filantrópicos para viabilizar iniciativas sociais que nascem de doadores, de movimentos e coletivos que, por exemplo, não possuem CNPJ para receber o capital.
  • Por fim, atuamos com o desenho e a implementação de programas de desenvolvimento territorial, captando recursos para suas causas, como acontece com um projeto na Amazônia”, explicou Leonardo.
O painel abriu um leque de possibilidades e confirmou a necessidade de se valorizar fundos, plataformas e captações de recursos coletivos que possam responder rapidamente a iniciativas que tragam respostas eficientes a problemas complexos.

SINOPSE: "O Impacto Coletivo como uma das tendências do investimento social privado"

Caminhos para a sustentabilidade do investimento em impacto coletivo

Mediado por Richard Sippli, diretor de operações e relações institucionais no Movimento Bem Maior, o painel reuniu duas grandes organizações: Fundación Rafael Meza Ayau (FRMA), com Carla Meyer de Dumont, diretora-executiva, e Fundação Corona, representada por Natalia Salazar Sarmiento, coordenadora técnica de projetos de educação e emprego, que compartilharem suas experiências relacionadas aos investimentos do ecossistema filantrópico.

Carla trouxe uma reflexão sobre a sustentabilidade de um modelo de ação com base no impacto coletivo. Para os projetos serem perenes, “criamos comitês de sustentabilidade e um comitê principal, representado pelos diferentes atores que participam da execução da iniciativa, durante todo o tempo de implementação. Os atores locais participam e existe uma liderança de base, garantindo que todas as ações feitas no projeto possam continuar. A sustentabilidade é possível com engajamento constante dos atores locais, que já conhecem o projeto e são embaixadores do conceito de impacto coletivo. O comitê tem a responsabilidade de continuar solicitando fundos, executando ações, envolvendo o governo, a cooperação da sociedade civil, igrejas porque isso é fundamental para abordar a questão da sustentabilidade em projetos de impacto coletivo”.

Ela conta que a fundação tem um eixo de formação social cujo papel é fortalecer os parceiros das localidades onde os projetos são implementados para que se se sintam empoderados e percebam que podem levar adiante suas ideias e soluções.

Carla ressaltou a importância de medir o impacto. “Mensurar é importante e acho que essa é uma fraqueza no nosso setor social em El Salvador. Estamos procurando fazer isso e tem sido um desafio alinhar os requisitos de métricas com todas as ONGs, mas é um processo que fortalece cada organização, a qualidade de tudo o que fazemos e que nos ajuda a identificar os líderes para cada assunto”.

Natalia ressaltou que nos projetos desenvolvidos pela Fundação, o investimento em monitoramento e avaliação da aprendizagem são fundamentais para a tomada de decisões, o que permite melhorar a médio prazo o desenho das iniciativas e os resultados. Outra reflexão levantada por Natália é sobre a importância de as organizações abrirem suas mentes. “Normalmente, o público-alvo está no centro da avaliação, são as pessoas que nos motivam a levar adiante todas essas ações, mas primeiro devemos transcender a visão tradicional de monitoramento de projeto, entendendo que estamos tratando de processos mais complexos de longo prazo, o que requer investimentos, riscos, fracassos e avanços”.

Para exemplificar suas ponderações sobre investimentos versus riscos e impasses que precisam ser pensados e testados, ela usou o GOYN, movimento internacional que a Fundação Corona apoia em Bogotá, voltado a inclusão produtiva de jovens em situação de vulnerabilidade socioeconômica. “Temos três questões importantes quando discutimos essa iniciativa. A primeira é como desenhar uma colaboração que realmente permita a articulação de ações que reforcem as trocas entre os diferentes atores do sistema. A segunda questão é como conseguir identificar rotas mais inclusivas voltadas a setores particulares da economia que ofereçam oportunidades para jovens. Por fim, como conquistar a sustentabilidade financeira para a manutenção do projeto.”

SINOPSE: "Avaliar iniciativas de Impacto Coletivo: experiências e aprendizados"

Articulando a medição compartilhada: avaliação de impacto da agenda comum de impacto coletivo

A conversa proporcionou uma rica contribuição teórico-metodológica para a compreensão e aplicação da avaliação de iniciativas de impacto coletivo. Este evento, que reuniu especialistas de renome, incluindo Fabíola Galli, gerente de conhecimento aplicado da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal do Núcleo Ciência pela Infância; Priscilla Cruz, presidente executiva do Todos pela Educação; e Rogério Silva, sócio do Pacto e doutor em saúde coletiva, ofereceu insights valiosos sobre o tema.

A contribuição teórica deste webinário reside na exploração das bases conceituais que sustentam a avaliação de impacto coletivo. Os palestrantes abordaram questões fundamentais, como a definição de indicadores de sucesso, a escolha de métodos de coleta de dados apropriados e a interpretação dos resultados. Eles também examinaram as complexidades inerentes à avaliação de iniciativas de impacto coletivo em áreas críticas, como primeira infância, educação pública e saúde coletiva.

Além disso, o evento ofereceu uma contribuição metodológica valiosa, fornecendo insights sobre como realizar avaliações eficazes e significativas. Os palestrantes compartilharam experiências práticas e aprendizados adquiridos ao longo de suas trajetórias profissionais, destacando desafios específicos enfrentados durante o processo de avaliação e como superá-los.

A importância desse webinário transcendeu o contexto do evento, pois destacou a necessidade premente de avaliações sólidas e bem fundamentadas para direcionar políticas públicas, aprimorar programas de impacto coletivo e, em última instância, promover o bem-estar da sociedade. Ao enfatizar tanto a teoria quanto a prática da avaliação de impacto coletivo, os palestrantes forneceram uma base sólida para profissionais, pesquisadores e formuladores de políticas interessados em abordar questões cruciais relacionadas à primeira infância, educação e saúde coletiva.

"Impacto Coletivo: para entender a metodologia"

Para entender a metodologia sob à luz da equidade racial

O "Webinar Pré-Fórum Latino-americano de Impacto Coletivo: para entender a metodologia" com Jennifer Splansky Juster ofereceu uma valiosa contribuição teórico-metodológica para aqueles interessados em compreender como o Impacto Coletivo pode ser aplicado como uma abordagem poderosa no enfrentamento de problemas sociais complexos. Este evento preparatório é uma extensão natural do Fórum Latino-americano de Impacto Coletivo, que reuniu um diversificado grupo de participantes, incluindo representantes de instituições, fundações, organizações sociais, acadêmicos, autoridades governamentais, empresas e indivíduos com interesse no tema.

A edição do Fórum em foco abordou a equidade, com ênfase na equidade racial, como ponto central dos debates e diálogos. O reconhecimento de que a promoção da equidade é fundamental para que as ações sejam genuinamente sistêmicas e sustentáveis permeou todas as discussões. A equidade foi definida como "a imparcialidade e a justiça alcançadas por meio da avaliação sistemática das disparidades em oportunidades, resultados e representações, e a reparação dessas distorções excludentes por meio de ações intencionais e direcionadas."

O enfoque na equidade racial se justificou pela dura realidade histórica enfrentada por pessoas negras, frequentemente marginalizadas em diversos níveis, incluindo o estrutural, institucional e interpessoal, em diferentes países. O destaque para a equidade racial também abriu espaço para a apresentação de ferramentas e recursos que podem ser aplicados em outros contextos e segmentos igualmente sujeitos à exclusão, como pessoas com deficiência, orientação sexual, gênero, classe social, casta, etnia, religião, entre outros.

O Webinar Pré-Fórum desempenhou um papel essencial ao responder a perguntas cruciais, como o significado da metodologia de Impacto Coletivo, por que ela tem se mostrado eficaz no enfrentamento de problemas sociais complexos e quem deve estar envolvido para que ela alcance o sucesso. Jennifer Splansky Juster, diretora-executiva do Fórum de Impacto Coletivo, liderou essa exploração. Ela é uma das principais referências na construção das práticas e do conceito do Impacto Coletivo, além de ter desenvolvido oportunidades de treinamento sobre o tema e frequentemente ministrado palestras relacionadas.

Vale destacar que a metodologia de Impacto Coletivo, inicialmente concebida por John Kania e Mark Kramer em 2011, passou por aprimoramentos ao longo de uma década, incorporando o feedback de indivíduos envolvidos na área e pesquisas sobre seu avanço. Atualizações recentes, com contribuições de especialistas como Jennifer Splansky Juster, destacaram a equidade como elemento central para o sucesso de ações que adotam essa metodologia, servindo como exemplos práticos de experiências bem-sucedidas.

O "Webinar Pré-Fórum Latino-americano de Impacto Coletivo" proporcionou uma visão aprofundada sobre a metodologia de Impacto Coletivo sob a perspectiva da equidade racial, preparando os participantes para o grande evento do Fórum. Ele contribuiu significativamente para o entendimento teórico e metodológico do Impacto Coletivo como uma abordagem eficaz na promoção de mudanças positivas e equitativas em nossa sociedade. É um recurso valioso para todos os interessados em construir um futuro mais justo e inclusivo.