Diferentemente de Adam, a experiência de Nina Silva com o impacto coletivo nasce de uma questão pessoal, que se amplia para um problema mais complexo no mundo e, especialmente, no Brasil. Cansada de não se reconhecer nos ambientes sociais e corporativos, ela foi vivenciar realidades em países onde as lutas contra o racismo estão vários passos à frente, para poder contribuir ao cenário brasileiro. Nina, que também integra o Conselho Deliberativo da United Way Brasil, fundou o movimento Black Money, que ela define como um processo em curso estruturado para conectar diferentes agentes que possam contribuir à causa.
Formada na área de TI e open finance, ela explica: “Fui apresentada a uma fresta dentro do sistema, sendo uma mulher preta. Olhei para essa fresta e vi uma chance não só de mobilização e possível carreira, mas, principalmente, como um espaço de mudança de acesso e de oportunidades para uma comunidade inteira. Somos 118,9 milhões de pessoas autodeclaradas negras e pardas, o segundo maior país em população negra no mundo, atrás apenas da Nigéria. Também somamos 53% dos micros e pequenos negócios que movimentam a economia brasileira, motivados pelos 70% de desempregados do país, que são negros e pardos e que acabam empreendendo por necessidade.”
Para Nina, ao falar de processos colaborativos é essencial que se fale em agenda comum, metas e objetivos. No caso do Black Money, essa agenda é o empoderamento, o reequilíbrio para dar poder às pessoas pretas e pardas no Brasil, que não contam com nenhuma ação mais estruturada. O racismo, sem dúvidas, é um problema complexo que arrastamos há anos. É um problema estendido e, portanto, a colaboração para enfrentá-lo também precisa ser estendida. “A pandemia e o homicídio de George Floyd, nos EUA, trouxeram à tona questões importantes sobre o genocídio dos jovens negros no Brasil. Um start colaborativo para que construamos uma agenda enegrecida, onde raça seja colocada como ponto de partida para outras agendas de desigualdades sociais, porque estamos falando de um país negro, em que a expectativa de vida de uma pessoa trans branca é de 35 anos e de uma trans negra é de 25, por exemplo. Ou seja, o fator raça puxa os índices para o agravamento das desigualdades.”
“Quem nunca ouviu falar que ‘se você quiser ir rápido, vá sozinho, mas se quiser ir longe, vá acompanhado’? Esse ditado é a base do trabalho colaborativo.” Segundo Nina, diferentemente de outras iniciativas brasileiras, o Black Money tem uma intencionalidade ao agir na questão racial. “A princípio, o movimento tinha como objetivo ser uma consultoria global de tecnologia para pessoas pretas, mas vi que o buraco era mais fundo. A gente precisava falar de educação, de letramento racial, para negros e não negros, e serviços financeiros. Temos, em quatro anos de atuação, 5 mil afro-empreendimentos sendo apoiados pelo Black Money, com o pilar único ‘compre intencionalmente de pessoas pretas, ative seu capital financeiro a serviço da comunidade negra’.” Para ela, a sociedade precisa ser colaborativa, a partir de dores reais. “A dor da comunidade negra precisa ser uma dor sentida por todos para que a gente possa resolver as demais questões de desigualdades”, ou seja, esta tem de ser a agenda comum para resolver a falta de equidade na sua raiz.