Ao nos comprometermos em priorizar a equidade nos deparamos, antes de mais nada, com entendimentos inconsistentes acerca de seu significado. Entre muitas definições alternativas, cada uma dotada de suas próprias virtudes, a que achamos mais útil vem da Urban Strategies Council, organização de pesquisa e defesa: “Equidade é a imparcialidade e a justiça alcançadas por meio da avaliação sistemática das disparidades em oportunidades, resultados e representações e a reparação [dessas] disparidades por meio de ações direcionadas”4. Essa definição mostra as necessidades de muitos grupos e populações diversos que atuam diariamente sob restrições estruturais que, há gerações, restringem sua capacidade de prosperar, resultando em marginalização e opressão severas e conjuntas, independentemente do lugar do mundo em que vivem. Apenas quando os esforços de impacto coletivo se dedicarem a compreender quem foi marginalizado e por que e como eles estão vivenciando a marginalização e, após tais investigações, adotarem uma ação direcionada para criar políticas, práticas e instituições que abordem iniquidades atuais e históricas, só então essas comunidades irão se libertar para atingir todo seu potencial.
A seguir, nos concentramos na equidade racial, uma vez que pessoas negras são, frequentemente, mais marginalizadas estrutural, institucional e interpessoalmente nos Estados Unidos e em muitos outros países5. Contudo, acreditamos que focar na equidade racial também nos permite apresentar estruturas, ferramentas e recursos que podem ser aplicados em outras áreas sujeitas a marginalizações — pessoas com deficiência, orientação sexual, gênero, classe, casta, etnia, religião etc.
Explorar a marginalização das pessoas, dentre uma variedade de identidades, pode também abrir espaço para a adoção de uma abordagem interseccional6 do trabalho, reconhecendo que aqueles dotados de múltiplas identidades (por exemplo, mulheres negras) encontram-se, muitas vezes, em situações mais difíceis que os demais. Nós incentivamos os profissionais a examinar dados locais e a ouvir as experiências das pessoas em suas comunidades para compreender quais populações são, sistematicamente, deixadas para trás e, então, trabalhar com as marginalizadas para adaptar as estratégias compartilhadas aqui a fim de melhorar suas vidas.
Devido ao aumento da atenção dada à equidade racial nos dias de hoje, provocado, em parte, pelo assassinato de George Floyd em maio de 2020 e por inúmeras outras vítimas de violência de cunho racista, o impacto heterogêneo da Covid-19 nas pessoas negras e o reconhecimento cada vez maior das consequências nefastas do racismo estrutural enraizado por toda a sociedade, nosso foco intensificado em equidade não será, para a maioria, uma surpresa. O desafio que nós e muitos outros enfrentamos, porém, é como colocar a equidade no centro da prática do impacto coletivo. Com este artigo, esperamos oferecer orientações específicas e práticas para os participantes de iniciativas de impacto coletivo, mostrando a eles o que precisa ser mudado em seu trabalho para que consigam atingir seus objetivos.
Em particular, acreditamos que priorizar a equidade exige repensar os fatos que aparentemente definem o problema, reconhecendo que populações marginalizadas dentro de qualquer comunidade têm experiências muito diferentes daquelas de muitos indivíduos e organizações que trabalham para ajudá-las. Como pessoas de fora, nós, frequentemente, não sabemos o suficiente para sermos úteis ou eficazes como deveríamos e, por isso, precisamos primeiro conversar, ouvir e aprender.
Também reconhecemos que o impacto coletivo tem eficácia duradoura apenas se voltar-se para a mudança de sistemas subjacentes, não apenas para o acréscimo de programas ou serviços novos. Colocar o foco na equidade exige uma representação diversificada mais ampla em cargos de liderança e em estratégias para mudar o poder, de modo que os detentores do poder formal – nos Estados Unidos e em boa parte do mundo ocidental, principalmente pessoas do sexo masculino e brancas – sejam capazes de se envolver com a comunidade, ouvi-la, compartilhar seu poder e, ainda, agir de acordo com sua sabedoria. Por fim, todos os envolvidos devem reconhecer e assumir a responsabilidade de seus papéis na perpetuação e na correção das iniquidades – um processo de mudança interior que, muitas vezes, é ignorado.